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Who is Aroleifa ?


Quando idealizei esta revista, algo que definitivamente não estava como objetivo primeiro neste espaço era o da alto-promoção, assim como ainda não o é. Este é e será um espaço para divulgar a cultura tradicional religiosa Yorùbá, assim como as de suas mesclas espalhadas pelo mundo.
Ficou determinado que, as fotos e documentos contidos nas matérias apresentadas na revista, devem estar diretamente relacionados com o artigo em questão, de forma a se tornarem um elemento ilustrativo das informações, nunca um elemento de status a um individuo em detrimento a cultura.
Na página inicial da “Revista Asa Ibile Yorùbá” eu escrevia:

“Quando realmente a sede nos aflige, não importa o recipiente, e sim, a água nele contida”.

Infelizmente, ainda, algumas pessoas não estão preocupadas em matar sua sede (que lhes é flagrante, dada à desidratação de saber), e sim, em questionar de que material é feito o “recipiente”, se de madeira, cristal, plástico etc.
Por não serem capazes de provar impróprio o conteúdo, passam a empenhar-se, mesmo que de forma estéril, em destituir o recipiente.
Incapazes de contra argumentar de forma fundamentada, ou até mesmo criar um espaço equivalente para formalizar seus pensamentos e suas criticas em relação a algumas das matérias apresentadas pela revista, ou até mesmo formalizar alguma acusação de irregularidade, o que resta a estas infelizes almas, é engrossar e validar cada vez mais o adágio popular que diz:

“Algumas pessoas só são capazes de se nivelar por baixo”.

Não por conta destas “almas”, mas, em respeito aos leitores da “Revista Asa Ibile Yorùbá”, em particular, as pessoas que em algum momento depositaram credibilidade em mim, pessoas as quais serei eternamente grato, é que passo a deixar registrado aqui algumas linhas a respeito de minha jornada religiosa, assim como alguns documentos e fotos relacionadas às informações oferecidas.
Desde já, peço desculpas aos leitores por tomar espaço na revista com estas futilidades. Entretanto, para que não sejamos vitimados por outro adágio, que diz:

“Quem cala...”
Em 1987, iniciei minha caminhada religiosa, penso eu, como a maioria das pessoas, pela boa e “velha” Umbanda. Participei do Terreiro da saudosa Mãe Rita de Omolu em Curitiba.
Fiz a transição da Umbanda para o Candomblé em 1992, como Ogã de Ogun pelas mãos de Jeanete, Filha de Oderã de Logunede. Tomei axé com pai Orlando de Ogundimoloko em 1994. 
Foi na casa de Orlando que tive contato pela primeira vez com o nigeriano (Oyekunle) com quem eu iria pela primeira vez  a  Nigéria  em  1999  onde  me  iniciei  a Ifá (onde recebi o nome de Aroleifa) assim como Ogboni no Iledi Ewe Gbemi no Bairro de Ore Meji.
Em 2000 fiz minha segunda Viajem a África onde prestei culto a Ogun assim como me tornei membro da Prepotent Traditional Institute For Ancienet Philosophers.
Pelo fato de não manter mais contato com o nigeriano com quem fui à Nigéria a primeira vez, em 2007 retornei a África, agora acompanhado de outro nigeriano e amigo Tayo Akinlotan, quem me apresentou a Felex Ayoh’omidire, pessoa que muito me ajudou em minha pesquisa a cerca de Odùdúwà.
Nesta oportunidade recebi meu Oye de Agba Akin, assim como recebi meu Opa Osun e Igba Odu pelas mãos do Oluwo Majiyagbedo Egbe Alaragbo e do babalawo Ifakayode em Abeokuta. Em minha viajem anterior havia conhecido o Onisegun-olosaiyn Okegbenro, sacerdote do irmão carnal de Tayo, a quem fui visitar em 2007 e por meio dele fui levado a meu atual Oluwo Ifá em Abeokuta.
Muraina e chefes dentro do palácio do Oba.
 Nesta mesma ocasião participei do festival de Ifá do “Araba of Oworonsoki”, festividade que durou três saudosos dias. Durante o festival conheci o Oloye Ifatokun Awolola, que também é Oluwo Ogboni do Iledi Otitolagba Morenike Olomowewe, cujo Babaláwo é irmão do Araba. Por ser casado com uma cubana, ele fala um bom portunhol, o que me ajudou muito e permitiu que pudéssemos trocar muitas informações a cerca destas divindades.
Foi neste mesmo ano que tive a oportunidade de conhecer o Araba Agbaye em Ilê Ifé, assim como Aduni Olorisa Susanne Wenger em Osogbo, acompanhado na ocasião pelo filho de Ifayemi Elebuibon (Bababola), o qual me deu o privilegio de conhecer a casa de seu pai, assim como o quarto onde se encontram suas divindades. Não posso esquecer-me de mencionar o Babalawo Ifalade de Badagri, babalawo de meu amigo Alaji que mora em Suurulere onde fiquei hospedado por alguns dias.
Em 2009, retornei a “Mãe África”, onde fui a Ilero (Oyó), local onde participei de um ritual para Sàngó, uma das cerimônias mais bonitas que já participei. 
Nesta mesma viajem fomos apresentados ao Esa Muraina Oyelami’s, pessoa séria e respeitada em Iragbiji. Ficamos hospedados em sua casa onde ele também mantém o Obatala Center, foi por meio dele que chegamos a Adebisi Oluwo Ogboni, que realizou as cerimônias tanto de Oyafunké, quanto a de outra pessoa que nos acompanhava Akinkanju. Recebi das mãos do Araba Ogboni o titulo de Elemoso Awo (registrado em vídeo).
                                                                              Autorização do Oluwo Ogboni Majiyagbe   
Com a influencia de Muraina fomos recebidos pelo Obá of Iragbiji,Oba Abdur Rasheed Ayotunde Olabomi, o  Oba foi informado por Muraina das iniciações realizadas, assim como o meu Oye junto ao Iledi do qual o Obá também faz parte. Foi também por meio do Esa que conhecemos a bela e atenciosa Yeye Osun de Iragbiji, onde em seu Ile asé fez a cerimônia do oye - título de Oyafunke, onde também tomei asé. Por fim, em Iragbiji conhecemos Tunde Aberefa, com quem colhi muitos conhecimentos (salvos em vídeo), todavia, não mantive nenhum vinculo religioso, apenas mediei à realização do Isefa do hoje Ifasakin e Ifasewa.Naquela mesma oportunidade Aberefa preparou o Ifá de mais duas pessoas, o qual me incumbiu de realizar os sacrifícios anuais. De Aberefa recebi de presente o oruka - anel Ogboni, que ao colocar em minha mão falou:

“Agora quando olharem para sua mão saberão que estão falando com um Awo”.

Foi em Ile ifé que conheci Dr. Tunde professor na Universidade Obafemi Owoluwo. O Dr. Tunde fala português, e questionou-me a respeito de que fazíamos na Nigéria. Expliquei minha ligação com a religião e o interesse que tenho pela cultura, imediatamente ele pegou o telefone e falou com uma pessoa que ele chamava de Olukó (Professor), ao desligar o telefone me falou:
“Amanha cedo, vá à casa do professor de religião aqui da faculdade, ele vai estar te esperando”.
Aquilo para mim já valeria a viajem, mas para meu espanto, quando me deparei com o professor em sua casa, ele era nada mais nada menos do que Fatomilola, sacerdote respeitado e famoso também no meio artístico em toda a yorubaland. Gentilmente Fatomilola me proporcionou a oportunidade de colher mais de 3 horas de vídeo com seus ensinamentos e respostas às minhas inúmeras “ignorâncias” (salvo em vídeo). Também em 2009 fomos a Ondo onde prestei culto a meu Pai Ògun (a quem devo minha existência) com o sacerdote de Ògun do Osemawe.                   
Por meio de palestras, acerca de nove anos venho passando um pouco desta experiência e de minhas pesquisas de campo a cerca da cultura religiosa dos iorubas, principalmente o que tange a filosofia sagrada de Ifá. O alvo principal destas palestras são os Educadores que por ocasião da Lei. 10639 tornaram-se os responsáveis a discorrer nos meios escolares sobre os elementos diversos da cultura africana, dentre elas a religião dos Yorùbá.
Não pretendo com estas informações, fazer prevalecer ou que se tenha como verdade, no sentido de ela ser absoluta, o que escrevemos nas matérias desta revista, quanto menos afirmar ser detentor de todo o saber, até porque, o pouco que já vi e aprendi apenas me trazem a certeza do quão ainda tenho que ver e aprender. Contudo, não pejo em dizer que esta vivência e convivência me instruíram a cerca da lacuna existente entre ver e compreender, ser e estar.
Certa vez em uma palestra que tive o prazer de participar, realizada pela Profª. Dirléia Marthins, a respeito das Religiões de Matriz Africana, ouvi a seguinte colocação vinda de um dos participantes a respeito de certificados (naquele caso formação acadêmica), que ele chamou de “canudo”:
“Eu tenho cinco canudos, e aprendi com eles que canudo não tira a “orelha grande” de ninguém”.

Isto me remete a um Itan de Ifá, cujo permitam dividir com aqueles apegados a Oye – títulos, aos que hoje estão Awo Ogboni, Awofá, Babalaôs e Babalorixás.

Owonrin Sindin:
Quando despertamos pela manhã.
Se encontrarmos uma boa pessoa no caminho, isto nos inspira; dá-nos energia.
Se encontrarmos uma pessoa desprezível, isto nos deprime.
Somente uma pessoa boa é bom de se encontrar.
As predições de Ifá foram feitas para Orunmila.
No dia em que ele se dirigiu à casa de Elesinoyan
Orunmila disse: Elesinoyam, o que você prefere:
Nome ou título?
Os títulos são passageiros.
Só o nome persiste até o fim da vida de uma pessoa.
Igba cresce como Igba
Emi cresce como Emi.
É a mão pequena que se usa para pegar uma tartaruga.
As predições de Ifá foram feitas para Orunmila
No dia em que foi para a casa de Olooyayun.

Elesinoyan – aquele que tem um cavalo de cor cinza
Emi – árvore cujo tronco sai leite, butyrospermum.
Igba – árvores centenárias, árvore africana com favas de grãos verdes.
É também nesta linha que Ofunkanran nos Ori-enta:
Amanheceu. Olokanran não colocou sua coroa.
Amanhece. Olokanran não colocou em seu pescoço o colar grande, que revela sua realeza.
Amanheceu. Olokanran não vestiu roupa de idé para sair com brilho.
É com nobreza que se trata o nobre.
É com sabedoria que se trata o sábio.
Quando o mais velho parte fica o mais novo em seu lugar.
É com prosperidade que se cresce na vida.
Ori que será coroado não precisa ser grande
O pescoço que ostentará o colar de nobreza não precisa ser grande nem comprido.
O corpo que será vestido com roupa de idé não precisa ser grande.
Títulos serão passageiros, diplomas comida de traças, algo que o futuro se encarregará de deixar no passado. A iniciação não faz um sacerdote. Mas retomando o sábio dos tempos para a eternidade, Ifá, aprendi que, é o nome que deve ser valorizado, o nome que ao renascer-mos nos foi dado por ele, símbolo do que se espera de nossa existência sobre o corpo da Mãe Terra, esperança  e responsabilidade que Òrunmìlà-Ifá depositou em nossos ombros. É  o nome iniciático que realmente deve-se almejar ser merecedor e digno.
Pois títulos, diplomas,  símbolo muitas vezes de nossa vaidade, escudo onde muitos escamoteiam sua ignorância, algo que carregam pendurado no peito ou imobilizado na parede da sala.
Ifatokun, Aburo Araba e baba Egun Festival Ifá.
  Owonrin Sindi:
Òrunmìlà estava no palácio do rei Elesinoyan".
Ele dissera ao rei para não confiar em títulos e coisas suntuosas na vida. Ele disse: logo um título pode deixar a pessoa, mas o nome perdura, até a morte.
Não apenas isso, mas suas boas ações e caráter fariam o nome durar pela eternidade.
“Este foi o sermão de Òrunmìlà no palácio de Elesynoyan”.
                               Ritual Sango Ilero Nigeria.

Sàngó não ficou eternizado por ter sido Alafin em Oyó, mas por seus feitos e  por sua coragem. Ele só foi Alafin por ser Sàngó, e não há possibilidade de se pegar a mão ao contrario. Muitos querem ser Basorun, mas não querem ser Basorun Gaa.
Chamo-me T’ógùn Aroleifa (Aquele que tem magia-medicina Herdeiro- de Ifá).
E este é o título que me basta, o título que Ogbeolá a mim confiou,  e esta “pampa” não é pobre. 
Em lagos, no festival de Ifá, fui apresentado a Ifaniyi por Alaji, que durante as cerimônias me questionou a respeito do nome de meu Ifá, respondi:
- É Ogbeolá.
Ele me falou quase que imediatamente:
-Ogbe Alara é o Ifá de meu Pai, você vai ser vitima de muita inveja.
Achei que ele estava fazendo algo para me agradar, tal foi minha surpresa quando vi no folheto da festa o odù marcado, Ogbe Otura, encabeçando os outros.
Desta forma passo a entender mais a respeito de meu primeiro nome e a influencia dele em minha vida.
Sempre me perguntei, inveja do que?
Não tenho bens para tanto quanto menos status para tal. Mas com o tempo aprendi que a inveja é querer ter o mesmo que outrem, sem os esforços que este desprendeu. E este algo, não é necessariamente um bem material, pode perfeitamente estar no campo social.

“Xingamento, escárnio, maledicência e calunia são algumas das expressões da fala depreciativa. Isata, ato de criticar pessoas ou situações, acha-se relacionado à inveja (ìlara). As criticas e referencias depreciativas feitas a outras pessoas têm por raiz um sentimento de inferioridade ou de incômodo provocado pelo sucesso ou pelo brilho alheio. Tal uso da palavra deprecia o ori de quem fala, o conduz à perda da nobreza [...]”. King / Iyakemi Ribeiro 2011.

Lembro-me do inicio de minha jornada, na transição de uma cultura religiosa para outra, do Candomblé para o culto de Ifá ou Ifismo. Embora tenha feito minha primeira ida a Nigéria em 1999, já estudava Ifá ha 3 anos. Na cidade onde moro, raríssimas pessoas sabiam sequer o que era Ifá, os que sabiam, era graças ao saudoso Verger, e eu sou um destes muitos (não estão incluídas aqui as exceções). Naquela época falar em bagre para orixá era como tentar agradar ao diabo com uma cruz. Ifá era "coisa de africanista".
Os sacerdotes de candomblé tinham na figura de um Awofá um adversário, algo que Beniste e Verger já relatavam ter ocorrido na Bahia. Os motivos estavam principalmente no discurso a respeito da liturgia, dos mitos, do sistema de divinação e principalmente na filosofia religiosa. A denominação de “Os africanos” foi como um rótulo, claro, não de forma a ser um elogio. Angariei alguns desafetos nesta estrada, uns pelas atitudes inerentes a um recém-convertido, outros, pela defesa dos valores morais dos yorùbá. Entretanto o que me indignava e ainda o faz nesta jornada, é ver os “filhos” daquela terra tornando-se   mercadores da fé. Pessoas que com suas atitudes, principalmente no campo da ética, destroem a imagem dos verdadeiros e legítimos Omó Odùdúwà, dos verdadeiros sacerdotes desta cultura.
Quero aproveitar este momento e chamar atenção a uma tendência verdadeiramente maléfica ao resgate do culto, principalmente o de Ifá no Brasil, e em particular neste Estado.
Egbe Sango em Ilero, Oyó.
Tornando-se um porto para o desembarque de ludibriadores, pessoas que em sua terra desfrutam de certo prestigio, mas ao se deparar com a possibilidade que “ganhar” um dinheiro fácil, não excitam em desdizer o que anteriormente fora dito, invalidar o que estes legitimaram em terras yorùbá. É na falta de informação das pessoas que os procuram, na avidez de se ter um nome para blindar sua incompetência religiosa e na credibilidade forjada que ostenta o mediador e tradutor , que geralmente tem porcentagem nos valore$ aferidos, é que africanos se apóiam. Fazem o que jamais fariam em locais onde suas atitudes pudessem ser questionadas, e seu teor ilegítimo revelado. O que leva um “sacerdote” a cobrar para uma iniciação no Brasil metade do valor que cobra em sua terra natal? O que leva um “sacerdote” a pedir um pombo, um Igbín, uma galinha e quatro obi, para que com “tudo isto” seja feito, um Isefa (que ele chama de iniciação de Ifá), “assentar” um ojubó de Iyemoja,  além de um ebó de Iya Ajé? O que leva um sacerdote a realizar iniciação de Ifá (sem a presença de seu Igba-dú e seu Opa Osun) onde o neófito é raspado com maquina de tosar cachorro, por alguém que nem sequer tem seu próprio Ifá?
O que leva um sacerdote a afirmar que Ifá não vê o sexo do iniciado, e sim seu coração, na tentativa de calar o maior tabu dos iorubas dentro do Ifismo tradicional?
Araba Awodiran, Oloye Ifatokun e Aroleifa

A resposta é clara e objetiva, esta na conveniência estabelecia entre a oferta e a procura, em quem vende e os que compram. A conveniência chega ao ponto de se poder parcelar o acordo em suaves parcelas, como se faz nas Casas Bahia. Mas, há de salientar que este parcelamento não esta condicionado a credito, a confiança entre as partes envolvidas nesta negociata, e sim, na presença do cobrador. Agora, aquele que anteriormente foi o mediador e tradutor, fará valer sua parcela, seu quinhão no contrato executando, desta feita ,no papel de cobrador, visto que, ao vendedor não é possível fazê-lo a distancia, e não que lhe falte meios, pois este já recebera quantias enviadas em sua conta no passado, mas, na incerteza de receber tais valores, pois como diz o ditado popular:
“Ladrão que rouba ladrão...”
           Iyagbo e Oloya no culto para Osun Iragbiji, Osun State.
Poderia eu fazer deste artigo um “gibi”, ou um “Mar de Sangue” dado ao numero de imagens possíveis de serem aqui postadas ao longo de minha caminhada religiosa além das que já postei. Todavia, para alguns a cegueira é tal que mesmo outro ditado que diz: “Uma imagem fala mais que mil palavras” não faria a menor diferença.
É o compromisso com as pessoas que confiaram a mim seus segredos mais profundos, em meus juramentos e em respeito a os demais Sacerdotes de Ifá ,que possivelmente virão a ler este material, é que me dou por satisfeito, mesmo que meus carrascos não.
Ogun yee !!!




Por Sandro A. Oliveira T’ogun Aroleifa.