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Em que, ou onde se baseia esse sistema de Ọmọ Odù (combinações gráficas de Ifá) no jogo de búzios tradicionalmente denominado ẹẹ́rìndínlógún? O instrumento da verdade cientifica é o experimento se quer saber se algo é “verdade” ou não na ciência, se faz necessário o experimento, um bom exemplo disto é a teoria da evolução, que vai continuar sendo teoria, até o momento em que ela passe pelo crivo da prova cientifica do experimento, o que até esta data não ocorreu. No Ifismo, o instrumento da verdade teológica é a palavra de Deus. E se quisermos saber se algo é fato ou aleive teologicamente falando; não será o iyawo, Babalóriṣá, nem  Babaláwo, tão pouco o Araba,  e sim a palavra de Olódùmarè que nos diz quem esta com a verdade. Queremos fazer constar aqui que: não somos donos da verdade no sentido de ela ser absoluta, pois a única verdade é a palavra de Olódùmarè e o próprio Olódùmarè. Assim, qualquer dogma imputado a prática da religião yorùbá, deve ser submetido à palavra e não ao teste da achologia ou do conceito teórico filosófico teológico.
“Ifá é a Palavra de Olódùmarè. Ele contém seu plano pra tudo na Terra, desde a formiga minúscula ao enorme firmamento. Ele tem um plano para todas as coisas e as controla. Esta mesma Palavra verte a luz em tudo e sustenta tudo... Olódùmarè tem poder acima de todas as coisas na Terra e no Céu, assim, Ele é um rei muito grande para se conceber. Se é impossível imaginar o conteúdo de Ifá, a palavra de Deus, seria impossível imaginar o tamanho de o Espírito Ser cuja palavra é Ifá.”Ayo Salami.
É do Odù-Ifá Osa-alawo o seguinte poema:

Osa- alawo diz, o que é verdade?                                                     
Eu digo o que é verdade?
Ọ̀rúnmìlà diz: Verdade é o senhor do Ọ̀run guiando a Terra!
Osa-alawo diz, o que é verdade?
Eu digo, o que é verdade?
Ọ̀rúnmìlà diz: Verdade é o Invisível guiando a terra, a sabedoria que Olódùmarè esta usando grande sabedoria, muitas sabedoria.
Osa-alawo diz, o que é verdade?
Eu digo, o que é verdade?
Ọ̀rúnmìlà diz: Verdade é o caráter de Olódùmarè.
Verdade é a palavra que não cai.
Ifá é a verdade!
Verdade é a palavra que não se corrompe.
Poder que ultrapassa a tudo. Bênção perpetua.
Foi o que declarou Ifá para Ilẹ̀-Aiyé.

Este trabalho tem como objetivo, abordar esta prática bastante difundida em Cuba, e que agora vem ganhando espaço nos meios afro-brasileiros, principalmente nos que mantém uma ligação com o culto de Ifá de origem cubana.
 No decorrer deste artigo, apresentaremos ao amigo leitor, os argumentos que fazem com que vejamos esta prática desprovida de qualquer “fundamento” tanto no campo etnográfico quanto menos teológico Yorùbá e que nos parece estar alicerçada no simples desejo de fazê-lo.

O sistema de divinação Ifá.

Já tive  oportunidade de presenciar um sacerdote do candomblé ligado ao culto cubano de Ifá utilizando este sistema de Ọmọ Odù pelo Mẹ́rìndínlógún e dentro do seu conceito, reproduzindo os ensinamentos de seus mais velhos  sacerdotes de  Ifá  ligados  a esta tradição, convicto que era possível acessar  a totalidade  das  figuras  sagradas  de  Ifá
AWISE TUNDE ABEREFA OF IRAGBIJI / 2009.
Por "adivinhação Ifá" queremos dizer Ifá e sistemas relacionados de adivinhação com base nas histórias e símbolos do Odù como Dida wọ́ (divinação com a cadeia de adivinhação sagrada chamada Ọ̀pẹ̀lẹ̀) e ètìtẹ̀-alẹ̀ (adivinhação com os frutos da palmeira sagrada), ẹẹ́rìndínlógún (divinação com os dezesseis búzios), agbigba (adivinhação com uma cadeia de adivinhar um pouco diferente do Ọ̀pẹ̀lẹ̀) e Obì (adivinhação com nozes de cola). Wande Abimbola...
Dos sistemas relacionados por Abimbola como veremos no decorrer deste ensaio, tradicionalmente, (e é a este sistema tradicional que vamos nos ater), há apenas dois instrumentos oraculares capazes de acessar a totalidade dos Odù Ifá que juntos somam 256.
Não são poucos os estudiosos e sacerdotes que se referem a este fato.
Para que este trabalho possa ser luz ao leitor, reproduziremos aqui algumas destas informações fornecidas por estes pesquisadores e sacerdotes, assim como nossos comentários a cerca destes argumentos que penso: devem ser refletidos!
Em quanto Ifá é acessível a todos, no sentido de que os babalaôs são consultados pelos devotos de qualquer idade e divindade, a divinação com dezesseis búzios é usualmente realizada em ocasiões rituais, no seio de cultos de divindades especificas (os Egbe Ooṣa). Isto também é valido em relação à divinação com quatro búzios, quatro pedaços de noz de cola (obì), ou quatro pedaços de cola amarga (orogbo). Esses três, restringem-se aquilo que pode prever isto, porque depois dos ikin (semente do dendezeiro), o Ọ̀pẹ̀lẹ̀ (conhecido na etnografia brasileira por rosário de Ifá) é o único instrumento capaz de criar as duzentas e cinqüenta e seis figuras sagradas, as quais permitem que o divinador faça a leitura de suas assinaturas  por meio de seus  poemas  chamados  Itan  e  ẹsẹ.
O Ọ̀pẹ̀lẹ̀ é composto por uma corrente com quatro favas de árvore cujo nome científico é: Irvinéia garbonensis, ou Irvinéia barteri, que apesar de abertas ficam unidas em suas extremidades mais estreitas, por vezes, pode ser feito de ferro ou até mesmo em bronze. Embora uma variedade de materiais possa ser empregada em sua fabricação, qualquer que seja o material com que um Ọ̀pẹ̀lẹ̀ for confeccionado o que os caracteriza: é o formato dos elementos unidos pela cadeia, seja de contas ou elos, que via de regra, são ovalados ou apresentam superfícies côncavas e convexas.
Ifá, por meio dos Itan e seus ẹsẹ, nos revelam que tanto Ọ̀pẹ̀lẹ̀ quanto Ikin podem atingir totalidade de seus Odù, assim como, em que momento na história eles passarão a serem oráculos ligados a divinação de Ifá propriamente dita.
Ògúndá Méjì nos revela em um de seus contos que:

WE  IFA IBADAN / 1999.
“Com a morte de Ògúndá-mèjì, (nona codificação sagrada), deu-se um fato curioso, que após o seu enterro, em seu tumulo, brotou uma árvore que frutificou. O fruto, uma fava que caiu ao solo abrindo-se ao meio e exibindo em seu interior, a figura sagrada correspondente a ogbè-méjì (primeira codificação sagrada). A partir de então se passou a utilizá-la, como componente do Ọ̀pẹ̀lẹ̀ Ifá “Rosario de Ifá” nome pelo qual é conhecido popularmente.” Bascom. 
Em outra história de Ògúndá Méjì catalogada por Osamaro, podemos encontrar outra informação com relação à Ọ̀pẹ̀lẹ̀ e sua ligação com o sistema divinatório Ifá.
“Seu servo fiel, Ọ̀pẹ̀lẹ̀, avisou Ọ̀rúnmìlà a não recusar a tarefa porque com as preparações adequadas, ele estava convencido que o sucesso o aguardava... Com as palavras de persuasão de seu servo favorito Ọ̀pẹ̀lẹ̀, Ọ̀rúnmìlà concordou em partir na missão, mas apelou a Deus em lhe dar a indulgência para se preparar em alguns dias antes de partir. Neste estágio Ọ̀pẹ̀lẹ̀ partiu para o céu, mas avisou a Ọ̀rúnmìlà para procurar por ele depois de algum tempo no caminho para a fazenda. Por fim transformou-se em uma árvore cujos frutos são usados até hoje para preparar o instrumento divinatório Ọ̀pẹ̀lẹ̀. Ele disse a Ọ̀rúnmìlà como usar as sementes que ele traria dali em diante para divinação”. (ver o Itan na integra em: Ifism The Comple Work Of Ọ̀rúnmìlà– Osamaro).
Fazendo uso deste instrumento, uma das duzentas e cinqüenta e seis figuras pode surgir por meio de um único lançamento dessa ferramenta divina. Uma meia concha semental na posição “aberta”, com a superfície côncava interna voltada para cima, equivale a uma linha única no  Ọpọ́n Ifá “tabuleiro”, já, se cair na posição fechada ou “invertida”, a superfície externa convexa para cima é equivalente a um sinal duplo.
Referências a este instrumento e a capacidade de revelar as 256 configurações podem ser encontradas abundantemente na literatura que trata do tema.
“Ọ̀pẹ̀lẹ̀ é o nome de um oráculo inferior, considerado um mensageiro de Ifá”. (Farrow, 1926: 42). “Opelê ou Òpépéré é um oráculo de categoria inferior à de Ifá e olhado como seu constante assistente, falando-se comumente que é o seu escravo.” (Dennett, 1906: 249). “Estas combinações são denominadas filhos do Mensageiro que surge à direita”. Desse modo Ọgbê Yeku é filho de Ọgbê; Oyekú Ọgbê é um filho de Oyekú. “Daí se pode mostrar 256 combinações”. Wyndham.
Encontramos em Ògúndá Méjì como Ọ̀pẹ̀lẹ̀ passou a ser elemento do sistema de divinação Ifá. Também ressalta nos contos a ligação anterior que os elementos tinham com Ọ̀rúnmìlà sejam os Ikin seja o Ọ̀pẹ̀lẹ̀. No conto fornecido por Bascom, nos da conta de que, foi com a saída de Ògúndá Méjì do Àiyé (mundo visível), que surge a árvore cujo fruto é o Ọ̀pẹ̀lẹ̀, idem neste ultimo conto, embora agora o personagem seja metaforicamente o próprio Ọ̀pẹ̀lẹ̀.
O Ikin conhecido como: O grande Oráculo, também é referenciado tanto pela etnografia quanto a teologia yorùbá. Osamaro em sua obra faz menção a uma palmeira especial (de onde se extrai o Ikin), situada na “fronteira” entre ọ̀run e Àiyé.
“As primeiras divindades a chegarem a terra logo descobriram que não havia solo para pisar. Todo o lugar era alagado. Havia uma única palmeira que se encontrava no meio das águas com suas raízes no céu, que era o portão para o mesmo. Como eles estavam chegando e não tinham nenhum outro lugar para ficar, exceto nos ramos da palmeira. Era um momento realmente muito difícil... Quando Ọ̀rúnmìlà alcançou o portão para a terra, ele encontrou todas as outras divindades penduradas nos ramos da palmeira. Ele também não tinha opção exceto se unir a eles... Logo que Ọ̀rúnmìlà teve certeza de que o solo estava suficientemente forte, ele desceu da palmeira para a terra, e sua primeira tarefa foi transplantar as plantas que trouxe do céu. Depois disso todas as outras divindades desceram para a terra uma depois da outra. Este é o motivo de porque a palmeira foi primeira a ser criada das que tinha suas raízes no céu, é respeitada por todas as divindades. É o antepassado de sua estirpe”.

Sobre Ikin, Iwòrì Méjì diz:

Quando a terra não tinha mais paz foi decidido que os filhos de Ọ̀rúnmìlà deveriam ir para o ọ̀run e persuadir seu pai a voltar para a terra. Conseqüentemente os oito filhos de Ọ̀rúnmìlà foram para o Ọ̀run onde encontraram seu pai no pé de “uma palmeira bem desenvolvida, muito ramificada para lá e para cá e que tinha dezesseis cabeças (copas) em forma de cabana”.
Eles tentaram convencer seu pai a voltar, mas ele não aceitou e em vez disso deu a cada um deles dezesseis nozes de palmeira e disse:
Quando vocês chegarem em casa,
Se quiserem ter dinheiro,
Esta é a pessoa que deve ser consultada.
Quando vocês chegarem em casa,
Se vocês quiserem esposas,
Esta é a pessoa que deve ser consultada.
Quando vocês chegarem em casa,
E quiserem ter crianças,
Esta é a pessoa que vocês devem consultar...
Qualquer coisa boa que vocês desejem ter na terra,
Esta é a pessoa a quem vocês devem consultar...

“Ọ̀rúnmìlà repôs a sua presença na terra com as dezesseis nozes de palmeira conhecidas como Ikin e desde então essas dezesseis nozes de palmeira sagrada tornaram-se o mais importante instrumento de divinação de Ifá, Ikin é considerado o mais antigo e mais importante instrumento de divinação. É devido à importância das nozes sagradas como o mais antigo símbolo de Ifá que não podem ser carregadas para cima e para baixo para todas as ocasiões de divinação”. Wande Abimbola.
Embora o ikin seja um oráculo superior ao Ọ̀pẹ̀lẹ̀ dado ao fato de que dentro da teologia Yorùbá ele é a representação física do próprio Ọ̀rúnmìlà, ambos empregam o mesmo conjunto de figuras, com os mesmos nomes e hierarquia, alem dos mesmos versos. A primeira figura obtida no decorrer de uma consulta é conhecida por “esteio no chão ou Opolé – Opo Ilé” ( porque fica  de  “pé” no “solo” ) é  recordada  pelo adivinho até que seja chegado o  momento de recitar seus versos que contem  a  predição e  especificação  do  sacrifício que  devera  ser  feito. 
É de extrema relevância compreender que para o surgimento de uma das 256 figuras sagradas, com o uso do ikin, são necessárias no mínimo oito manipulações pelo sacerdote e desta resultante surge uma única “figura”. No entanto, pode-se perceber que em nenhum momento ou situação, os ikin são lançados ao solo ou sobre o ọpọ́n Ifá, configurando assim oito manipulações, e não oito lançamentos e que para cada uma delas, uma marca de forma e ordem especifica é feita sobre o ìyẹròsùn (pó amarelo usado na divinação de Ifá) contido no interior o tabuleiro divinatório, tabuleiro este de uso restritivo a divinação com ikin, fato que não tem sido respeitado por grande parte dos sacerdotes de Òrìṣà no Brasil.
Com o uso do Ọ̀pẹ̀lẹ̀ é possível obter um sinal duplo em um único lançamento deste instrumento, cujo sua figura já estaria representada em seu corpo, dispensando assim a utilização do ọpọ́n ifá.
Mesmo a manipulação dos ikin, não permite que o sinal sagrado (odù “escrito”) surja em momento distinto no tempo, uma vez que o divinador vai dando forma a ele com a observância de ordem específica. O babaláwo vai marcando as partes do todo da figura da direita para a esquerda, de cima para baixo, assim a “perna” direita (masculino) será formada primeira, entretanto, acompanhada do surgimento de três dos quatro sinais que formam a “perna” ou “braço” esquerdo (feminino). Assim, se o Awo não fizer a última manipulação do Ikin, não obterá uma figura completa, seria como um corpo sem cabeça (o que não nos permitiria reconhecer o indivíduo), esta ultima manipulação permite o surgimento do sinal com padrão duplo, que não deve ou pode ser interpretado separadamente e sim como uma única figura.
O que já não ocorre, por exemplo, com o Owó Mẹ́rìndínlógún, oráculo conhecido popularmente como jogo de búzios, que gera N+1 possibilidades. Os contos sagrados relatam que este sistema foi criado por Ifá, algumas vertentes afirmam que foi Èṣù e entregue a Ọ̀ṣun ou Obatala. Preferimos nos ater aos contos de Ifá.

Os hipotéticos sistemas. 

Aqueles que afirmam ser possível acessar a totalidade dos odù fazendo uso do jogo de búzios imputam isto aos seguintes sistemas (denominarei o primeiro de A e o Segundo de B, assim como T, para o sistema tradicional):
A - O primeiro lançamento do conjunto de búzios refere-se à primeira figura do Ọmọ Odù, ou seja, seu lado direito. A segunda por conseqüência estaria relacionada à figura do lado esquerdo, desta forma formando a figura composta com dois padrões distintos conhecida no sistema de Ifá por Ọmọ Odù ou Amulu.

Exemplo:
No primeiro lançamento dos búzios obtêm-se cinco (5) búzios “abertos” que neste oráculo é denominado Ọ̀ṣẹ́.

I     I
I I   I I
I     I
I I   I I

No segundo arremesso do oráculo obtemos dez (10) búzios “abertos”, que correspondem ao Odù  Òfún.

I I   I I
I     I
I I   I I
I     I

Assim, encontraríamos o ọmọ Odù, no caso Oshe-Òfún.

I I     I
  I     I I
I I     I
  I     I I
(Ọ̀ṣẹ́ Òfún).
B – Já nesta outra opção, os búzios passam a ter a mesma função dos Ikin, embora usados de forma distinta. Desta feita os búzios são lançados por oito vezes (8), onde para cada “caída”, um sinal é registrado. O que determina se o sinal será duplo ( I I ) ou uno ( I ) é a quantidade de búzios  com a parte “aberta” voltada para cima, para os números pares, o sinal será duplo.
Ao discorrermos a cerca deste sistema ficara evidente a inconsistência do mesmo.
Embora o Odù Méjì como o próprio nome o sugere, seja duplo, uma vez que a sua assinatura é formada por dois (duplo) padrões, um do lado direito e outro do esquerdo, ele recebe este nome pelo fato de possuir o mesmo padrão de marcas em ambos os lados da figura. O termo Méjì se refere à duplicidade de um mesmo padrão, e não ao fato da figura apresentar dois padrões distintos.
Sustentamos a impossibilidade de Owó Mẹ́rìndínlógún (búzios), formar ou gerar as outras 240 figuras sagradas (ọmọ Odù), entre outros fatores o de que: para cada arremesso dos búzios sobre a peneira ou objeto adequado, o mesmo trás consigo umas das dezessete (17) configurações já estabelecidas e sólidas conhecidas como MÉJÌ (duplo), contendo em seu corpo literário versos e ẹsẹ. Trataremos de sua 17ª configuração, mas à frente.
Esta “figura” não pode ser alterada tão pouco ignorar as mensagens e predições trazidas pela divindade na configuração formada.  Se utilizarmos os búzios como sugere o sistema B, transformaremos um sistema divinatório onde a função do sacerdote de Ifá é reconhecer a assinatura de cada um dos Odù e a interpretação de suas características do ponto de vista literário, mitológico e religioso, em pura numerologia, dado ao fato que, estaríamos considerando configurações sagradas, como se fossem números.
IVOR: De onde vêm os nomes dos Odù? Eles estão baseados nos números, ou nos nomes de ancestrais específicos?
WANDE: Cada um tem um nome distinto para si próprio. Eles não são números, nossa filosofia não está baseada muito nos números. Cada Odù, assim como cada Òrìṣà, tem seu próprio nome. Há dezesseis deles, e seus filhos são 240. Os nomes de cada um dos filhos foram dados de seus pais. Os nomes de todos os Odù vêm dos dezesseis primeiro. No Dílógún, ou sistema de búzios, os nomes não são unidos como eles são em Ifá, com a exceção de Èjì Ogbè. Mas em Ifá, eles são todos unidos. Os nomes reais de cada Odù estão contidos em sua forma singular, nos dezesseis originais. (Ifá Will Mend Our Broken World.)
De inicio, podemos perceber que na busca de encontrar um ọmọ Odù, o sistema A e B nos obrigam a ignorar a presença de um Baba ou Oju Odù, visto que o primeiro lançamento do conjunto de búzios obrigatoriamente apresentará um deles. Além de ignorá-los, os sistemas A e B, ignoram também a superioridade deles na hierarquia. Para que esta hierarquia prevaleça um Baba Odù terá que se apresentar por duas vezes aos olhos do divinador, que tradicionalmente é denominado “olhador”. Pensamos que no sistema A e B, o termo não seja adequado.
Não bastasse isso, o divinador ao recorrer a este sistema mostra total desconhecimento a cerca das mensagens contidas nos 16 sinais do ẹẹ́rìndínlógún. Tradicionalmente as mensagens contidas em um determinado ọmọ Odù do sistema Ifá, podem ser encontradas em um dos Odù do ẹẹ́rìndínlógún. Por que motivo deve-se usar um sistema, para encontrar em outro, respostas que estão dentro do sistema que se esta a ignorar.
“Ainda na África, BABALÁWO não olha no Dílógún de forma alguma. Nós acreditamos que Dílógún tenha seu próprio àse. Mesmo quando um sacerdote de Dílógún está cantando ou recitando os versos do Dílógún, quando ele diz que está recitando Òdí Méjì, um BABALÁWO irá encontrar estes versos em Òyèkú, Òdí e ìrosun, foram colocados juntos em seu próprio meio eclético.” Wande Abimbola.
Mesmo que fosse possível ignorar a primeira configuração sagrada gerada no primeiro lançamento, um segundo lançamento do conjunto de búzios, por conseqüência apresentaria uma segunda figura (Odù) e não um segundo número. Ainda que em ambos os lançamentos surjam à mesma “figura”, jamais poderia ser considerada uma combinação, ou seja, um “mọ Odù”, pois surgiram de lançamentos diferentes, em momentos distintos no tempo, o que já vimos não ocorre com os instrumentos anteriormente abordados onde uma figura formada por dois padrões distintos que surge no mesmo espaço e tempo. 
No jogo de búzios (T), como deveria ser praticado, o primeiro lançamento é o mais importante, pois indica o Odù que se apresenta como orientador regente e responsável pela consulta oracular (assim como um Òrìṣà) de forma que jamais se deveria ignorara suas prescrições e orientações, considerando-o como apenas um número (B) ou parte de um todo (A) a se observar.
Mesmo quando da procura do Ìbò, para encontrar a negatividade ou a positividade, devesse respeitar sempre a ordem hierárquica do Odù que surgiu como determinante do sortilégio ou do infortúnio. Deste modo, pode-se observar que jamais um dos lances dos búzios devera ser considerado com um simples algarismo ou como algo incompleto.
Com já vimos, com o uso do Ọ̀pẹ̀lẹ̀ é possível obter padrões distintos, ọmọ Odù, em um único lançamento deste instrumento, cujo sua assinatura já estaria representada em seu corpo, dispensando assim a utilização do  Ọpọ́n. Um fator que já presenciei ocorrer e que é relevante na divinação com Ọ̀pẹ̀lẹ̀, esta relacionada à ignorância por parte de alguns ADIVINHADORES, do fato que este instrumento possui lado direito e esquerdo, simbolizando masculino e feminino respectivamente. Tradicionalmente a corrente divinatória apresenta um numero maior de elementos (moedas, kobo oniho ou búzios) ligados ao lado que representa o masculino. Isto auxilia o divinador a não interpretar a figura do Odù equivocadamente, interpretando Ogbè-Ọ̀yẹ̀kú como se fora Ọ̀yẹ̀kú-Ogbè, o que resultaria entre outras coisas na ineficácia dos ritos realizados para solução das aflições do consulente. Isto ocorre quando o babaláwo ao lançar à corrente, não percebe que inverteu os lados do instrumento quando o pega para o arremesso.
Esta relação direita e esquerda é referida como Ọ̀rúnmìlà e Èṣù por Ayo Salami, onde a direita representa Ọ̀rúnmìlà.
Atentando que é de vital importância compreender que a queda do Ọ̀pẹ̀lẹ̀ não esta entregue a sorte e nem ao acaso e sim, controlada por Ifá, a divindade da divinação, o mesmo se da em relação ao jogo de ẹẹ́rìndínlógún, aonde as quedas e respostas são controladas por Èṣù.
De acordo com Fatumbi Verge em seu livro: “Nota do culto aos Voduns e Orixás,” relata que: “Não é mais Ifá que serve de intermediário neste sistema Owó Mẹ́rìndínlógún e sim Èṣù que sempre acompanha Ifá, a criação deste sistema encontra-se relatada em um dos itan sagrados”.
Podemos assim observar que a relação Èṣù-Ifá citada acima só é possível em se tratando dos oráculos de Ikin e Ọ̀pẹ̀lẹ̀, já no terceiro, o qual estamos aqui tratando, Ifá não é mais a divindade responsável, ficando por conta única e exclusiva de Èṣù.
Não ignoramos o fato de que originalmente o sistema de divinação por meio do conjunto de 16 búzios, pertencia a Ọ̀ṣun no sentido de que, Ifá o criou como saldo de gratidão a ela. No entanto, não devemos nos enganar que seja ele quem molda a figura (Odù) a ser interpretado. Que o mẹ́rìndínlógún tem origem em Ifá, é fato que não se pode negar, não passa por eu sugerir que os búzios não sejam capazes de determinar um Odù (Méjì) assim como negar sua origem a Ifá.
Contudo, não deveria alguns confundir as mentes mais desinformadas e não familiarizadas com esta cultura.
A ambigüidade do termo ifá, faz com que se interpretem colocações de forma equivocadas e muitas vezes convenientes. O termo Ifá pode designar o oráculo de Ọ̀rúnmìlà, como também qualquer sistema de divinação por meio de Odù. Ifá pode indicar o ato de divinar, uma vez que a raiz do termo FA-designa “RASPAR” é o que faz o babaláwo no iyẹrosùn contido na tábua divinatória, I-prefixo que da ação ao verbo, assim Ifá é também o ato de com a fricção dos dedos marcarem o código do Odù no iyẹrosùn, ou seja, o ato de divinar. Por este motivo que se costuma tratar o sinal produzido por esta ação de assinatura do Odù. A terminologia Ifá, igualmente pode estar referindo-se a magia (òogùn) freqüentemente indicada na consulta oracular, assim como o conjunto de pensamentos filosóficos tradicionais Yorùbá, Ifá, como mencionado no inicio deste ensaio, pode até mesmo ser alusão à palavra do Criador. Por este motivo, ocorre em erro aquele que relaciona o fato de ẹẹ́rìndínlógún ser Ifá, (enquanto sistema divinatório que acessa Odù), com a possibilidade de que  Ifá agora divindade Ọ̀rúnmìlà, seja quem diretamente esteja intermediando a divinação neste sistema.
Estéreis também são as argumentações daqueles que afirmam ser Ọ̀rúnmìlà quem se manifesta no jogo de búzios, apelando para o seu titulo de Ẹlẹ́ri Ipin, o considerando apenas como testemunha do destino dos homens, reduzindo assim a amplitude e significado do termo.
Ifá ficou encarregado da divinação por sua grande sabedoria, que ele adquiriu com o resultado da sua presença ao lado de Olódùmarè, quando este criou o universo. Ifá, portanto sabia os segredos do universo. Ọ̀rúnmìlà foi nomeado testemunha de Deus quando Este começou seu trabalho criativo. Ọ̀rúnmìlà, embora a mais nova de todas as divindades criadas por Deus era verdadeiramente a própria testemunha de Deus quando começou a criar outras substâncias orgânicas e inorgânicas.
“Depois da moldagem da figura humana em barro, era tempo de lhe dar o hálito de vida, de modo que Deus falou a todas as divindades que estavam presentes para fecharem seus olhos. Todos fecharam seus olhos, exceto Ọ̀rúnmìlà, que simplesmente cobriu sua face com seus dedos sem cobrir seus olhos. Quando Deus estava insuflando o sopro de vida no homem, descobriu que Ọ̀rúnmìlà estava assistindo-o. Quando Ọ̀rúnmìlà tentou fechar seus olhos depois de ter sido pego espionando, Deus chamou-o para manter seus olhos abertos já que nada espetacular era feito sem uma testemunha viva. Este é o porquê Ọ̀rúnmìlà é chamado Ukpin ou Òrìṣà. Testemunha do próprio Deus”.
 “AjibOríşa Kpeero significa: a única divindade que acorda de manhã para ir saudar Deus na Reunião do destino, enquanto que Eleeri Ukpin significa: a divindade que se sentou como testemunho do próprio Deus na corte do destino, quando o destino de todas as criaturas estava sendo designado”. Osamaro.
Somente ele conhece a verdadeira natureza e origem de todos os objetos animados ou inanimados criados por Deus. Ọ̀rúnmìlà é testemunha da criação de tudo e a natureza deste todo.
Apesar de Ọ̀rúnmìlà presenciar a escolha do conteúdo de “Orí” do homem, não quer dizer que ele seja o único que possa nos orientar a respeito de nosso destino.
Ọ̀rúnmìlà, juntamente com outras divindades principais, tais como Obatalá, Ẹla, Osanyin e muitos outros Irunmole, testemunharam a criação do homem. Assim, eles podem revelar o destino do homem e corrigir todas as desgraças do homem no caminho em direção ao seu destino”.  Olayinka Babatunde Ogunsina.
No Odù Òfúnkaran, encontramos o relato de que quando Orí se perdeu no caminho do ọ̀run para o àiyé, Orí foi consultar Egúngun, Oro, e também foi consultar Ogun e Ṣàngó, Orí procurou orientação de Èṣù dizendo: “Você, Èṣù, famoso e generoso, é você que vim consultar”, Èṣù o levou a consultar Ifá que diz a Orí:” Falaram com você por metáforas e símbolos, você não entendeu”. Òfúnkaran revela que as divindades também podem nos orientar a respeito de nosso destino.
Retornando ao objetivo deste trabalho.
Também podemos encontrar relatos que nos informam como o sistema de divinação ẹẹ́rìndínlógún se originou por ocasião em que os Òrìṣà tinham partido para o ọ̀run e seus filhos não tinham como se comunicar com eles, por este motivo Ọ̀rúnmìlà criou este sistema de forma que eles poderiam consultar seus pais a cerca de seus assuntos terrenos.  Por este motivo outro nome para o ẹẹ́rìndínlógún é Odù Òrìṣà.
O Odù que se relaciona a uma divindade em particular, diz-se que pertence àquela divindade. O que isto significa é que os mitos daquela divindade estão contidos no seu Odù, de forma que muitos poemas naquele Odù vão conter histórias sobre aquela divindade. Além disso, ligando-se cada Odù a uma divindade particular, a coleção de escritos fica mais próxima da religião Yorùbá e do sistema de crenças, de tal modo que cada divindade do elaborado panteão da mitologia Yorùbá, pode então falar ao cliente através do Odù que lhe pertence.
É Incorreto deduzir que Odù, tenha origem em Ọ̀rúnmìlà. Não! Eles foram criados como divindades (por mais que alguns não queiram crer assim) por Olódùmarè.
“Os Yorùbá acreditam que os Odù são divindades em si mesmas e que eles como outras divindades desceram do ọ̀run na cidade de Ifè”.
“Acredita-se também que o Odù foi enviado por Olódùmarè (o Deus Onipotente Yorùbá) para substituir Ọ̀rúnmìlà na terra após o retorno deste para o ọ̀run”. Wande Abimbola.
Embora o ẹẹ́rìndínlógún acesse alguns Odù e Ọ̀rúnmìlà se comunique com o divinador por meio de Odù, não é coerente afirmar por este motivo que seja ele quem esteja em comunicação com o divinador no ẹẹ́rìndínlógún. Esta comunicação esta ocorrendo como uma série de divindades com Ọya, Ògun, Orí, intermediadas por outras, no caso os Odù, que se utilizam da ação de Èṣù sobre os elementos para formar a figura correspondente e que simboliza cada um destes Odù. No caso dos Ikin e Ọ̀pẹ̀lẹ̀, a comunicação ocorre para com o divinador de forma similar, todavia Ọ̀rúnmìlà seja a única divindade a quem o divinador esteja mantendo contato direto, alem do que, o próprio Ọ̀rúnmìlà que transforma ou gera a figura ou assinatura do Odù que revela o “X” das questões. Em outras palavras, ambos os sistemas (ẹẹ́rìndínlógún e Ikin) acessam Odù, ainda que apenas ikin e Ọ̀pẹ̀lẹ̀ sofram ação direta de Ọ̀rúnmìlà.
Para deixar ainda mais evidente à impossibilidade de acesso aos 240 ọmọ Odù que compõem o oráculo de Ifá fazendo uso do jogo de búzios, deve-se observar que, aqueles que fazem parte deste sistema possuem em grande parte nomes diferentes dos utilizados no Ikin ou Ọ̀pẹ̀lẹ̀. Por ex, o nome da segunda figura gerada no jogo de búzios em sua ordem é: Eji Oko, já a décima segunda em sua ordem é Ejilá Ṣebora.
Se levarmos em consideração a probabilidade de encontramos um ọmọ Odù utilizando os búzios, que nome teria esta combinação acima citada; Ejokolashebora ou Okobora ou talvez Laseborako?
Observa-se o fato que qualquer que seja a lista (convenções) de nomes dentro do ẹẹ́rìndínlógún os nomes de Eji-oko e Ejilá-Ṣebora, com exceção a grafia, não mudam. Quando nos referimos ao possível nome que surgiria da relação entre esses dois Odù do ẹẹ́rìndínlógún, não estávamos esquecendo os nomes alternativos que os Odù Ifá apresentam, por exemplo, Otura/Ogbè, de nome alternativo Otuaorikó ou Ogbè/Otura de nome alternativo Ogbèóla etc. Podemos encontrar nos poemas de Ifá o significado do nome de Èjiogbè, o primeiro Odù na hierarquia de Ifá.
“Todos os olhares se voltaram para a misteriosa criança”. Com poucas palavras foi decifrado o enigma. Juntaram as peças faltantes, dizendo:
 “Eji mogbe ni ogbè enikon!”, “Veio ao mundo para salvar a vida de seus pais! por isso, que cada um deles recebeu o aviso salvando-se de uma destruição mútua”. Todos ficaram impressionados com a criança. “No sétimo dia quando seus pais foram dar o nome à criança decidiram chamá-lo de Eji-O-Gbe, Aquele que salvou-apoiou Dois, ou Dupla Salvação”.
Nesta cultura, nome de algo sempre revelara algo sobre o algo. O nome da improvável combinação entre Eji-oko e Ejilá-ṣebora não pode ser dado, porque não podem ser encontrados entre os 240 ọmọ Odù, seja em sua forma tradicional ou alternativa.
E mesmo com a impossibilidade demonstrada, e levada pelo desejo de dialogar com a perspectiva A e B, nos indagamos... Neste engenhoso sistema onde esta nova figura seria registrada, uma vez que diferentemente do Ọ̀pẹ̀lẹ̀, o sinal não ficaria registrado no corpo do conjunto de búzios? Esperamos sinceramente que a resposta não seja em uma folha de papel feita a lápis ou algo que o valha. Embora confesse, seria melhor obtermos esta afirmação do que, elas seriam marcadas no Ọpọ́n Ifá.
Não se basta os argumentos acima, ainda há outro fator a ser abordado, é o evento de que, dentre as dezesseis figuras básicas de Ifá, nenhuma determina com o seu surgimento o encerramento da consulta, já podemos observar o acontecimento deste fato dentro do sistema de mẹ́rìndínlógún (T), quando nos referimos ao seu décimo sétimo sinal, Opira. Uma vez que ele é 17º sinal no búzio e determina o termino da consulta, vou além para alertar que se encararmos a possibilidade de ignorar a determinação de Opira, como sugere os sistemas A e B, e continuarmos a consulta, considerando-o como uma figura “valida” a se analisar, mais do que encontrarmos 256 Odù, estariam encarando incríveis 289 Odù.
Para os que encaram Odù como números (B), a coisa seria ainda menos simples, uma vez que Opira é indicado por zero búzio abertos.  Em um sistema que apenas pares e impares são considerados, Opira teria valor de par (B) ou seria visto como neutro (A)? Isto pode ser ainda mais complicado para os que vêem zero como número par, fazendo com que o sistema (B) desmorone de vez, pois este perderia todo o equilíbrio, o que é intrínseco a um oráculo.
Da manipulação dos dendês ou pelo arremesso de Ọ̀pẹ̀lẹ̀, ambos podem ser interpretados em termos das leis da probabilidade, com cada uma das figuras tendo uma chance em 256 para aparecer.
Com mais este tempero a ser adicionado ao sistema B, à divinação com búzios visando atingir a totalidade dos Odù, tendencionaria ao sinal uno (gerados por números pares), uma vez que o sistema teria maior possibilidade de apresentar “números” pares, que somariam nove (9) contra oito (8). Já para o sistema A, o décimo sétimo (17°) sinal não representaria “nada” visto que seria neutro. Que destino se dará a Opira nestes sistemas. 
“Os nomes dos 256 Odù são baseados em 16 nomes genéricos de onde os nomes dos Odù são derivados. Cada um destes dezesseis nomes básicos corresponde a um dos 16 padrões possíveis de divinação em um dos braços da corrente divinatória ou um dos lados das marcas feitas no pó divinatório. Desde que ambos, o pó divinatório e a corrente divinatória são lidos da direita para a esquerda...”.
Será que caiu em erro ou lapso Wande Abimbola, não relacionando o mẹ́rìndínlógún entre os que apresentam tais padrões? É obvio que não. Certamente é de seu domínio que os Odù gerados pelo mẹ́rìndínlógún apresentam sempre os mesmos padrões, uma vez que são Oju Odù ou Baba Odù e não ọmọ odù ou Amulu, em outros termos, são duplos e não mistos. Indiferentes do angulo que os vejamos eles revelaram o mesmo padrão. Embora todo Odù do Ẹẹ́rìndínlógún sejam Méjì, formado pelos mesmos padrões em ambas as pernas, eles jamais são transcritos pelo divinador em terras Yorùbá, até mesmo porque isto é dado a outro corpo sacerdotal, no caso os babaláwo que os fazem a partir de outro sistema de divinação que não o ẹẹ́rìndínlógún.
O sistema A, onde se joga os búzios uma vez para o lado direito e uma segunda para o esquerdo, ignorando mais uma regra, pois formaríamos um (1) sinal duplo, originado por dois (2) méjì, isto é, o que anteriormente foi afirmado como sendo indivisível duplo - uno (T), agora para que o sistema (A) tenha eficácia, devera ser visto como divisível uno - duplo.
Sei que me faço repetitivo e longânimo, mas se faz necessário enfatizar, isto jamais ocorre com o Ọ̀pẹ̀lẹ̀ quanto menos com o Ikin, estes jamais mostrariam a figura de dois Baba para se formar à de um ọmọ.
Os poemas sagrados são caracterizados por uma série de fatores, entre eles estão à repetição linear incompleta ou completa, com o objetivo de enfatizar a mensagem principal do conto. Repetição linear completa ou incompleta sempre envolve a repetição de duas a dezesseis vezes. Isto pode ser visto no poema que segue, o qual esta, relacionado diretamente com o que estamos aqui tratando e em seguida farei algumas observações a respeito.

A cada 16 anos Olódùmarè Olofin do céu costumava submeter os adivinhadores da terra a um teste. Para descobrir se estavam contando mentiras para as pessoas que habitam a terra, ou Se estavam dizendo a verdade.
O teste envolveu Ọ̀rúnmìlà e outros adivinhadores da terra
Ọ̀rúnmìlà terminou, Olódùmarè perguntou: quem é o próximo?
Ọ̀rúnmìlà disse que o próximo… era uma mulher!
Ela também é um adivinho?
Ọ̀rúnmìlà respondera: sim.
Quando Ọ̀ṣun… viu tudo que estava em sua mente, mas não disse tudo,
 Ela mencionou a essência, mas não disse a raiz da questão como Ifá
Olódùmarè: o que é isso?
Ọ̀rúnmìlà então explicou como ele honrou Ọ̀ṣun com owó ẹrọ mẹ́rìndínlógún,
Olódùmarè disse: “esta tudo bem”
Ele disse mais a adiante que, ela não tinha entrado em detalhes Ele, Olódùmarè, deu seu parecer, mesmo que, o que ẹẹ́rìndínlógún diz não é detalhado.
Todos que desacreditam poderiam ver as conseqüências instantaneamente, não terá de esperar o dia seguinte por isso que as previsões de ẹẹ́rìndínlógún passam rapidamente mesmo que as histórias não sejam impressionantes foi assim que ẹẹ́rìndínlógún recebeu àṣẹ diretamente de Olódùmarè. (Wande Abimbola).

Primeiro pode se notar claramente a repetição linear incompleta.

“mas não disse tudo...”
“mas não disse a raiz da questão...”
“não tenha entrado em detalhes...”
“mesmo que, o que ẹẹ́rìndínlógún diz não é detalhado...”
“mesmo que as histórias não sejam impressionantes...”

A mensagem aqui é mais do que clara. As palavras de Olódùmarè mostram a limitação do sistema. Como também é obvio o motivo, os dezesseis anos referidos no conto são uma alusão ao sistema que o conto iria abordar o Mẹ́rìndínlógún. Ver ao contrario é afirmar que Ọ̀ṣun não sabia manipular o sistema. O que certamente não é o caso.

“O teste envolveu Ọ̀rúnmìlà...”
“Ọ̀rúnmìlà terminou...”
“Ọ̀rúnmìlà disse que...”
“Ọ̀rúnmìlà respondera: sim...”
“Ọ̀rúnmìlà” então explicou como ele “...”

Pode-se perceber que por toda a história, o nome Ọ̀rúnmìlà é usado para designar a divindade, entretanto por motivo evidente, quando o conto faz a comparação entre a divinação feita por Ọ̀rúnmìlà e Ọ̀ṣun, Olódùmarè diz:

“Ela mencionou a essência, mas não disse a raiz da questão como Ifá”.

Neste momento o nome Ifá surge, não estava Olódùmarè se referindo a Ọ̀rúnmìlà e sim ao sistema por ele manipulado na consulta, no caso Ifá. Com relação a o questionamento de Olódùmarè: … “o que é isso?”.
Demonstra que até então o mẹ́rìndínlógún não era de conhecimento de Olódùmarè, diferentemente do Ifá, uma vez que o próprio conto mostra quando da afirmação de Olódùmarè: “não disse a raiz da questão como Ifá”. Isto coloca por terra a tese de que ẹẹ́rìndínlógún seria mais antigo que Ifá.
Quando Olódùmarè diz: “esta tudo bem”.
Ele não estava se referindo a divinação feita por Ọ̀ṣun com ẹẹ́rìndínlógún, e sim a as argumentações dadas por Ọ̀rúnmìlà a Olódùmarè em relação aos motivos que o levaram a criar aquele sistema até então desconhecido por Ele.
Por fim o Itan traz sua mensagem final fazendo uso dos seguintes termos:

“por isso que” – “foi assim que”- por isso que as previsões de ẹẹ́rìndínlógún passam rapidamente… - foi assim que ẹẹ́rìndínlógún recebeu àṣẹ diretamente de Olódùmarè.

Esta “limitação”, ou melhor, restrição relatada pelo Itan anterior é apontada por outros contos, que definitivamente mostram que o sistema de ọmọ odù no ẹẹ́rìndínlógún e totalmente desprovido de fundamentação.
"Doravante, sua divinação só será precisa em noventa por cento. Também você está permitida a contrair apenas doze (12), dos meus dezesseis (16) odù para sua divinação e a combinação de três (3) lançamentos do Ẹrìndínlógún que será capaz de dar a você respostas corretas para as perguntas”. Taiyewo Ogunade.
“Como regra, os quatro últimos Odù, compreendendo Okaran Agba, Eji Oko Agba, Ògúndá Agba e Irosun Agba não são cantados quando as suas assinaturas são apresentadas na adivinhação”.  Ayo Salami.
O itan do Odù Òkànrànsodè Catalogado por Wande Abimbola e revelado pelo Babaláwo Ifat’ogun, revala como o “Apo Odù” ficou sobre o domínio de Ọ̀rúnmìlà, a história foi denominada, “A Bolsa da Sabedoria” por Wande.
A história diz que Olódùmarè ira dotar uma das divindades de grande sabedoria, e que esta sabedoria estaria representada em uma bolsa que contém alguns elementos. Olódùmarè não revelou onde ele lançaria a bolsa. Ọ̀rúnmìlà e Ọ̀ṣun por serem marido e mulher resolveram procurar a bolsa juntos, Ọ̀ṣun negligenciou o sacrifício prescrito pelos divinadores, ao contrario fez Ọ̀rúnmìlà. Em determinado momento da história Ọ̀ṣun se deparou com a bolsa que Olódùmarè tinha mostrado a todas as divindades para que a reconhecessem quando a localizassem. Embora Ọ̀ṣun tenha encontrado a bolsa antes de Ọ̀rúnmìlà, ela a perdeu no caminho de casa, a perca ocorreu por conta do furo que o rato fez no bolso da roupa que Ela esta usando. O referido rato fazia parte da oferenda feita por Ọ̀rúnmìlà. Ọ̀ṣun sem saber que não estava em posse da bolsa e que Ọ̀rúnmìlà a tinha encontrado e tomado para si chamou-o para revelar seu achado, Ọ̀rúnmìlà pediu a ela para poder ver a bolsa, mesmo sabedor de que ela não a tinha, Ọ̀ṣun afirmou que jamais permitiria que um homem a visse e só permitiria fazê-lo se ele pagasse um alto tributo a Ela, mesmo as suplicas de Ọ̀rúnmìlà não a dissuadiram. Quando Ela retornou para sua casa com o intuito de ver em segredo seu achado, descobriu que o tinha perdido. Ao saber que Ọ̀rúnmìlà era quem havia encontrado a bolsa da sabedoria, ela concordou em morar na mesma casa com seu marido, fato que até aquele ocorrido não era comum, o mito diz que foi após este episodio que os casais passaram a morar junto. Depois de muito insistir, Ọ̀ṣun recebeu de Ọ̀rúnmìlà o ẹẹ́rìndínlógún, que o Itan chamou de: “um pouco de sabedoria”. Também é revelado por Òkànrànsodè que a sabedoria contida na bolsa é Odù Ifá.
O mito deixa claro ao se referir como “um pouco de sabedoria” que o oráculo de ẹẹ́rìndínlógún estava limitado a 16 dos Odù do total contido na bolsa da sabedoria.
A tendência nas Américas de substituir o Ikin e Ọ̀pẹ̀lẹ̀ pelo ẹẹ́rìndínlógún não é recente, a este respeito já escrevia Roger Bastide e Pierre Verge 1953, pag. 365.
“Ora, esta se processando na Bahia uma coisa muito curiosa o babaláwo sem com isso perder seu nome, abandona cada vez mais o colar de Ifá ou Ọ̀pẹ̀lẹ̀, para utilizar-se apenas das conchas. Existem exceções, é verdade, mas muito raras. Já assinalamos que tal fato deve ser com certeza uma das razões da decadência desse corpo sacerdotal”.
“As artes dependem de um corpo de iniciados, magos, sacerdotes ou cientistas comprometidos como o mesmo código de decifração. O charlatão esta liberto disto e não tem nenhuma importância, pois a sua arte é a de enganar e só dependerá de sua astúcia”.  Prandi.

Com esta abordagem o que pretendemos é lançar luz nesta questão, desta forma resgatar os valores de cada um destes distintos oráculos. Assim como o respeito por parte da sociedade religiosas e civil, para aqueles que verdadeiramente dominam este milenar conhecimento, e o utilizam de forma ética em prol da comunidade religiosa ou consulente, e não visando apenas os “numero$” que resultam do seu engodo.

Por T’ogun Aroleifa.



A foto do Awo Sikiru foi tirada pela diretoria da revista, pois a mesma foi retirada de outra pg, sendo assim não temos a autorização de usá-la.