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“Uma poderosa e inescrupulosa organização", “Uma Companhia de Decapitação Ltda.”... Estas foram alcunhas imputadas por Ellis em 1894, e por Morton-Williams em 1960 para a Fraternidade Ògbóni.

 Conhecimento sem ritual não tem eficácia!

A verdade é que ambos os escritores eram partidários de uma ideologia evolucionista reinante na virada do século XIX, pregavam que a sociedade européia estava num estágio "superior" de civilização, assim, quaisquer práticas culturais, principalmente as religiosas, que se apartassem do padrão ocidental, especialmente do Cristianismo, eram imediatamente consideradas como prova da "inferioridade" de tais povos, e, por conseguinte, eram desprezadas e sujeitas a perseguição rigorosa da administração colonial. Ògbóni assim como Oro dedicaram-se à manutenção da continuidade cultural yorùbá e como seus membros estavam ativos durante o auge da repressão colonial, é provavelmente uma das razões pelas quais estas associações adotaram práticas secretas. 
Já para alguém de cultura Yorùbá o termo indica além do culto a divindade Oninlé (Iya-Aye), a maturidade, disciplina e verdade. No Brasil, em especial nos meios religiosos afro-brasileiros, o nome Ògbóni como conceito, esta virando “moda”, basta pronunciar este nome, seja um bate papo informal ou naquela roda de Ebomis para que aquele que o professou angarie o “respeito” ou o “reconhecimento” de seu interlocutor que, geralmente nada ou pouco sabe sobre o assunto. E, os que têm alguma ligação com esta “sociedade,” (hoje ainda poucos), demonstram total desrespeito e  sua falta de comprometimento com seus juramentos, chegando ate a promover “iniciações” com simples objetivo de VENDER ao incauto o Edan.
Este artigo  não  tem a pretensão  de ser palavra  ultima no que se refere a esta Sociedade;  mesmo porque, muitos trabalhos vêm despontando a respeito da Ògbóni no campo da etnografia religiosa Yorùbá. O nosso objetivo é ser mais uma vela acesa nesta escuridão de conhecimento e compreensão no que toca a Sociedade Ògbóni.
A denominação de "sociedade secreta" tem fundamento tanto na necessidade de omitir seus membros, locais de culto e praticas do Governo Colonial quanto na ambivalência de sua competência, que pendula entre o religioso e o secular. Com base na sociologia, William Bascom refuta esta classificação; pois segundo o autor, a Ògbóni é semelhante a outras associações religiosas yorùbá, onde seus lideres tem o direito de impor sansões, aqueles que revelam seus segredos e procedimentos ou quebram seus juramentos”. Infelizmente muitos dos sacerdotes que aqui aportam, não trazem em suas bagagens estes valores; talvez, para não tomar espaço na mala de outros “valore$” auferidos dos brasileiros.
Em 2007, em uma das oportunidades que tive de estar em solo Yorùbá, ouvi do Professor da Faculdade Obafemi Owolowo (antiga Universidade de Ifé) Felix H`omidire que:
“Quando lemos ou ouvimos alguém a respeito de determinado assunto devemos questionar, 'quem é' e que autoridade esta pessoa tem dentro do que se propôs a escrever ou falar”.
Por isto, gostaria de informar ao possível leitor deste artigo, que meu conhecimento a cerca desta Sociedade tem duas vertentes principais, a primeira: é Ifá, que em particular é o sustentáculo de minha religião, centrada em sua infinita sabedoria revelada nos Itan, (seu corpo literário) e propagada por seus discípulos, verdadeiras bibliotecas vivas, os Babaláwos.
A segunda: são os ensinamentos a mim transmitidos pelos anciões e membros dos ILEDI os quais tive a "honra" de ser aceito. Verdade é também, que algumas das informações que serão aqui apresentadas, para o descontentamento de alguns biblio-fóbicos, estão apoiadas nas bibliografias mais consultadas no tocante a Ògbóni. Aproveito a oportunidade, para externar minha eterna gratidão ao Professor Felix, por ter me apresentado ao conselho de anciões de Ilê Ifé, Moritala (in memory) meu iniciador em 1999; no Iledi Ewegbemi em Ibadan, ao meu Oluwo Majiyagbe do Iledi Alaragbo (do qual sou representante no Brasil), em Abeokuta onde recebi o oye de Agba-Akin em 2007. Meus respeitos e agradecimento ao grande Oluwo Adebisi do Iledi Otitolodun em Iragbiji; (Oluwo do Rei, em memória), onde em 2009 recebi o titulo de Elemoso daquele Iledi e a autorização para formar meu Iledi, agora na qualidade de Oluwo, autorização esta vinculada a vinda de um membro do mesmo autorizado para tal fim; o que até o momento não ocorreu. Ao Awo Sikiru - Gegeaye; pela infinita paciência demonstrada ao responder por horas as perguntas que, eu formulei, a respeito dos símbolos e ritos Ògbóni (registro este salvo em DVD). Não posso aqui esquecer de estender estas palavras ao Chief Muraina Oyelami, Eesa de Iragbiji homem de invejável influencia e sabedoria, que recebeu-nos gentilmente em sua residência e nos apresentou tanto ao Adebisi, e a Yeye Oun da cidade; quanto a sua Majestade Oba Abdur-Rasheed Ayotunde Olabomi (Odundun a IV), Aragbiji de Iragbiji e seu Awise, Tunde Abereifa, de quem recebi o meu Oruka Ògbóni; por ocasião de meu oye.
O termo Ògbóni é a contração da frase “eni táa bí sówó `awon `ogbó eni” - alguém que nasceu nas mãos dos anciões” - que se metamorfoseou em Ògbóni. Há diversas Fraternidades Ògbóni Aborígene (AOF) na Nigéria. Entre elas  podemos citar a Gbede Ougbo, que é normalmente referida como sendo a qual o Oba esta ligado, isto é; para os chefes do Obá,  ha também Ògbóni Otu Ifé; Ògbóni Iwule; há Ògbóni Arapa Nika esta originada em Akoko no Estado de Ondo, Ogboni Ara Ifé, Ògbóni Akala etc. Existe pequenas diferenças entre elas no tocante a liturgias, embora todas elas adorem Onilé. Ainda hoje há uma confusão feita pelos menos familiarizados, entre a Ògbóni  tradicional - conhecida na literatura inglesa como "Aboriginal Ògbóni Fraternity - A.O.F." - com a "Reformed Ògbóni Fraternity - R.O.F."; que foi criada em 1914, pelo Reverend Adésínà J. Ògúnbíyí, que revisou os rituais e o simbolismo tradicional, tornando-a assim oportuna tanto aos indivíduos não yorùbá; quanto os yorùbás adeptos ao cristianismo ou islamismo. Além de serem mais seculares, na sua orientação, ROF agora tem filial em toda a Nigéria e não é mais estritamente uma instituição yorùbá. O culto Ògbóni Aborígene propicia Ile (Terra), como uma deusa, tendo-a como objeto de culto, os Ògbóni interpretam a terra como sendo feminina e a tem como fonte da vida, para a qual toda a vida voltaria. Acreditando ser a mais sênior das três forças elementares: terra, água e ar (Simpson,1980). É, portanto, o útero e o túmulo de todos os seres humanos (Opefeyitimi 1994).
Há um grupo de mulheres atuantes na associação, em menor número em relação ao dos homens, elas nunca presidem os rituais. São chamadas de Erelú e representam os interesses das mulheres da cidade nas reuniões (Morton-Williams 1960). Entre os membros femininos do grupo incluem a, Yeyelafe; Iyabese; Iyalaje e a Iyabiye a mais eminente entre elas. Essencialmente, a instituição Ògbóni é um grupo secreto. Ninguém, exceto os membros podem realmente saber a profundidade de suas práticas, embora a sua influência na vida social dos yorùbá não seja um segredo. De fato, os Ògbóni são: mais ou menos, os legisladores no enclave tradicional yorùbá. Isso porque na sociedade yorùbá tradicional, a Ògbóni é o corpo de todos os idosos da comunidade, na verdade não há diferença entre os membros da Ògbóni e o conselho de anciãos, são os membros da Ògbóni que se tornam membros do conselho de chefes ou anciãos da terra (Daramola e Jeje 1970: 160).
Nesta sociedade, a Ògbóni é o elo entre o religioso e político, como uma instituição, serviu para preservar a cultura, as tradições e a historia da destruição total pelos colonos, preservando suas instituições tradicionais da aniquilação diante a influencia do novo regime. Juntamente com Ògbóni, a sociedade Oro, são considerados políticos, sociais e religiosos em diversos níveis são sociedades secretas. Ògbóni, Oro, Egúngún e Gelede são todos  cultos ancestrais, cuja rede de participantes e oficiais, constituem grande parte da estrutura política da sociedade Yorùbá – Wande Abimbola. 
Paralelamente a estes grupos esta Ifá, seus discípulos poderiam negociar com os membros Ògbóni para resolver os problemas da comunidade, (embora muitas vezes, fossem eles mesmos membros da Ògbóni). Lawal também discute que foi Ifá quem originalmente criou os rituais de Ògbóni. Sacerdotes Ifá em Oyó, em particular, estavam intimamente associados à àngó e Ògbóni onde um Babalawo pode residir no palácio, aqui um exemplo claro da interligação entre o culto de Ifá e o governo tradicional. Sociedades e cultos em conjunto contribuem para o funcionamento normal e moral da sociedade. Prandi aponta como fator fundamental para degeneração e falecimento ético das religiões afro-brasileiras a ausência destes grupos no Brasil.
Nesse quadro de falência ética das religiões no Brasil quero situar as religiões afro-brasileiras, mais especificamente o Candomblé." Reginaldo Prandi.
Os Oro são responsáveis pela polícia em algumas cidades, os Ògbóni  são os juízes, os Egúngún, que ajudam a mediar conflitos e facilitar as relações entre os vivos e os antepassados, as Gelede, que mantém e desenvolvem estratégias sociais para promover  paz, felicidade e união na comunidade (Asuwada).
Oro pode trabalhar por conta ou diretamente com a Ògbóni para regulamentar as regras.  A floresta Egba estava dentro da província Oyo, e pode ter sido em Egba que o culto Oro surgiu pela primeira vez. O historiador de arte Africana, Jr Ojo argumenta que, o culto Oro em Egba angariou seus membros do sexo masculino que pertenciam à Ògbóni [!]. Ojo inclui em sua declaração de uma nota sobre o Oro como um culto ancestral em sua raiz, que está intimamente associada com Ògbóni. Oro lidou com a execução de criminosos condenados, provável com as orientações dos Ògbóni.
A sociedade Ògbóni é na sua essência um culto político e religioso, ela foi criada em Ilê-Ifé, possivelmente no período do primeiro rei Yorùbá Odùduwà. De acordo com Babatunde Lawal, era inicialmente conhecida como "Mole."
A Ògbóni continuou a se desenvolver na Nova Oyo, no século XIX. "Os Egba trouxeram a instituição com eles de Ilê-Ifé e a desenvolveram a tal ponto que se tornou a mais característica instituição Egba. Em Egba e Ijebu esta sociedade é conhecida como Òùgbó. Os membros da comunidade reconhecem os distintos e importantes papeis de cada um destes grupos.
A sociedade yorùbá cingiu a interligação entre o espiritual e o  secular em  grande parte  devido à  filosofia de Ifá.
Por estas razões, entre outras, costumo dizer que todo o Awofá deveria ter um conhecimento básico sobre estes cultos. Não é meu objetivo me aprofundar nas praticas litúrgicas do grupo Ògbóni, pois não há de se esperar de um Awo, a quebra de awo. Queremos apenas abordar a riqueza de símbolos que cercam este culto, mais precisamente um dos elementos símbolo que identificam os membros desta Sociedade, o Ìtagbè ou àkì. Nas sociedades Africanas, onde as tradição oral têm primazia sobre os escritos, as artes visuais  desempenham um papel  vital  na sua  função como linguagem, entre estas artes esta  têxtil.
Quando a  arte sacra yorùbá é examinada, são os  mitos que podem trazer à tona a explicação e o significado por  trás  dos  símbolos, o  mito  é  a conexão  entre o elemento  símbolo  e  seu  significado. A  palavra  que designa  símbolo  ou  sinal,  na  língua  Yorùbá  é  'àmmì '  ou seja,  um  sinal  ou  significante  que  transmite  muito  mais  do  que  os  olhos  podem  ver. 
O capitulo  sagrado de Ogbe-oyenu  faz  referência  a  essência e importância do Ṣàkì. Transcrevemos a seguir parte do Itan.

OGBE-OYENU
Iyán di átúngún
Óbé di átúnsè
Wón ní kó ebí ku ohun kóhun mó
Bíkò se ohun àjogún bá won kan soso
Tí wón fi njo ba
Eyí kìíse ohun mìràn bíkò se Ṣàkì
Ebi ni ki Ṣàkì ná di ti Rà`ndàwú
Rà`ndàwú gba Ṣàkì odi Aláse ìlú
Ó joba lórí gbogbo won
Ṣàkì wá gba yì ó gb'éye
Ódi ohun olá odi ohun iyì
Bí akò bá ri Rà`ndàwú
Akó lè joyè baba eni
Ohun ti sùúrú seti
Ilè ní gbé.

Tradução livre.
O inhame exige reestudar
A sopa de ser refeita
Eles disseram que a família não tinha deixado nada
Exceto o respeitado legado - Ṣàkì
O emblema do reinado
A família decidiu que Ransawu herdaria o Ṣàkì
Randawu pegou o Ṣàkì e se tornou o governador da cidade
Ṣàkì então se tornou o emblema da dignidade e honra
Tornou-se o emblema da bondade e excelência
Sem observar Randawu
Alguém não pode ser instalado como chefe
Seja o que for que a paciência não possa esclarecer
Permanece sem esclarecimento.
                                                            
O verso deixa claro que o Ṣàkì (ìtagbè) é uma insígnia de honra e respeito. De fato é uma abominação para uma pessoa vestir Ṣàkì ou Ìtagbè e dizer mentiras[...] Então os Yorùbá dizem: "A kì igbé ṣàkì lé'ìká ka puro – significa que: “Não se deve usar de forma maldosa o Ṣàkì para dar credibilidade a  sua mentira”.
Como emblemas de chefia, sacerdócio e  participação na sociedade Oṣugbo-Ògbóni, panos intitulados aṣo-olona estão no cerne do poder e liderança entre os yorùbá tradicionais. Em Ijebu-Ode, são as mulheres que tecem panos de formas diferentes, que atendem diferentes funções dentro da sociedade, invocando sempre a Obalufon, divindade da criatividade e da tecelagem. Um desses “tecidos” é o Ìtagbè, pano que é utilizado como um símbolo do poder tanto religioso quanto político.
Uma mulher pode ostentar o título de Iyaegbe - mãe ou tecelão sênior, um título que indica a sua participação oficial em cerimônias. Embora seja homenageada por conta de sua profissão, tecelões não estão necessariamente a par das entrelinhas que cercam os panos que eles mesmos criam. 
O  acesso  a  este  conhecimento  é  um  privilégio  concedido  apenas  àqueles  que  têm  o  direito  de  vestir  a  “roupa”.
Este pano é produzido em grande parte na área Ijebu, presumivelmente por causa da ligação que Ijebu tem com a sociedade Oṣugbo. O Aṣo-olona é o nome genérico para este pano que a depender de tamanho e detalhe podem variar e suas  nomenclatura,  aṣo-olona  significa "pano com os padrões". Ele é produzido em dois tamanhos distintos. O  maior  é  conhecido como iborunnla Aṣo, que se usa estilo toga, com uma das pontas atirada por cima do ombro esquerdo, o menor é o ìtagbè ou ṣàkì para outros locais.  Pessoas de Oyo no estado de Ogun, que também fabricam e usam este estilo de emblema, se referem a ele como Kijipa. Mais especificamente, iborun-nla significa: "grande cobertura”, ou seja; proteção do sol (òórùn), de acordo com Lawal essa tradução explica  a  sua  função original  (1992). No entanto, com base  no  contexto  em  que estamos tratando e  que são utilizados estes panos, iborun`la  também  significa  “ cerimonial  ou  pano festivo ”. 
O "Ṣàkì" é projetado para reproduzir a aparência da superfície interna do estômago do homem. O intento ou simbologia disso é passar a mensagem de que um Ògbóni, ao carregá-lo não esta intentando qualquer conspiração maldosa. Então, ele orgulhosamente exibe o interior de seu estômago aonde ele guarda não apenas alimento, mas coisas que alimentam seus pensamentos e tudo que vê e sente. Segundo Osamaro “As feiticeiras não matam homem algum que age sinceramente de acordo com o sistema de instituição do povo e tabus proclamados por Olórun, e que a  única força capaz de sobrepujar o poder das feiticeiras é a Terra”. O Odu Ifá Osemolura nos mostra que o próprio Olódùmarè proclamou que o solo (terra) que em cerimônias no Iledi carrega outro nome, seria a única força que destruiria qualquer feiticeira ou divindade que transgredisse algumas das leis naturais.
Segundo a tradição oral, Ìtagbè/àkì surge em um pacto entre Òrúnmìlà e uma mulher chamada Poroyen na ocasião em que ele caiu em um profundo poço e não podia sair. 
Depois de sete dias e noites, sem comida ou  água, começou a cantar e isso atraiu Poroyen ao lado do poço. 
Ela ofereceu  ajuda para tirá-lo do poço com uma condição, de que ele se casasse com ela. Òrúnmìlà concordou, ela usou então o Ìtagbè, que é similar a um Ọjá para tirá-lo do fundo do poço. Òrúnmìlà manteve sua promessa, casando-se com Poroyen e lhe deu um filho. A mulher passou a usar o tecido que usou ao ajudar Òrúnmìlà, para levar seu bebê em suas costas. Ọjá é semelhante ao Ìtagbè, principalmente por causa dos tufos de fios que são deixadas sobre ele como  uma  decoração  quando  ele é tecido.  
As  mulheres  usam  o pano  para  carregar  os   bebês nas costas, embora   jamais  seja  usado  no  ombro  como  usaria  um  Awo  ou  um  Oba. Não confundir  Ọja  com ípèlé - este é um "pedaço de lenço", que  pode  ser amarrada a cabeça como um gele ou solto sobre o ombro.
A  origem  do  culto  Ògbóni  é  narrada nos  versos  de  Irosun-Oe  e  Ìrosùn-Ìwòrì, estes  versos  sagrados,  relatam  um momento  de  grande crise  na história da criação,  caracterizado  por  amargura,  ódio e esterilidade   na  terra. Olódùmarè  não se  agradava  com  essa situação, então enviou ao aye Òrúnmìlà com alguém de autoridade   que   foi  chamado  de Edan   para   conter  a  crise. Através do  Edan,  paz  e  unidade  foram restaurados.  Porém,  para  garantir  que  a  paz durasse, a  fraternidade  Ògbóni  ou  Ougbo  foi  criada.  A  Fraternidade Ougbo foi  dado o poder  de  instalar  o  Oba  ou  seu  próprio  rei, e o símbolo deste poder  é  o  Ìtagbè.
De acordo com Solanke,  Ìtagbè  em  si  é uma  forma  de  poder,  criada  a  partir da  fundação  da criação  de  Ifé. Foi, portanto, dada apenas para pessoas poderosas e influentes. Assim, alguém  vestindo o Ìtagbè não podia ser desobedecido  e  suas  palavras  eram  lei.  O Oba,  seus chefes e os membros da Fraternidade Ògbóni  dependendo de suas  funções, usam o Ìtagbè sobre  sua cabeça  ou  no  ombro esquerdo, exceto durante a procissão funeral de uma membro Ougbo. Governantes, chefes, membros da Oṣugbo e sumos sacerdotes usam ṣàkì como marcas e lembranças da posição que ocupavam em vida ou da sua relação com o rei. Esses panos funcionam como emblemas de poder e hierarquia, especialmente para os chefes e membros Ògbóni ou Ougbo (Aronson, 1992:53). àkì também é uma característica padrão do aṣo-olona. O tecelão o cria tecendo fios suplementares através de um pequeno grupo de urdidura, deixando as pontas penduradas na frente. O ṣàkì está associada a poder, prestígio e as coisas boas. A palavra ṣàkì significa: “tripé” o número três, é particularmente sagrado para os iorubas tanto dentro como fora da sociedade Oṣugbo, entretanto tem um significado muito mais profundo na cosmologia Ògbóni. Aṣo olona continua a marcar o status do seu proprietário até mesmo após a sua morte. Chefes e outros indivíduos do alto escalão devem ser enterrados com seus dotes para afirmar o seu status dentro do reino do espírito. Na verdade, alguns títulos de chefia no universo yorùbá, ainda são indicativos da presença da Ògbóni. Por vezes no intuito de indicar o alto status de um membro Oṣugbo, o grande Aṣo olona Iborun`la é usado como invólucro no corpo de um idoso falecido,  ate mesmo no desempenho de um Egúngún... Até agora tenho feito pouca distinção entre aṣo olona usados por chefes e os pertencentes a membros Oṣugbo. Existem diferenças importantes, apesar de que mais de noventa por cento dos chefes Ijebu pertencem Oṣugbo e isto se estende as demais áreas da yorubaland. Assim é difícil alguém que esteja fazendo uso deste tipo de "insígnia" não seja membro da Ògbóni ou tenha o recebido de um deles direta ou indiretamente. Em linhas gerais como símbolo de chefia o ìtagbè é usado sobre o ombro direito, já como indicativo da ògbóni ele é usado sobre o ombro esquerdo. Outra forma de distingui-los é que, os membros da Ògbóni usam tanto o iborun`la quanto ṣàkì, e por vezes este ultimo pode estar amarrado ou jogado sobre a cabeça, e o iborun`la enrolado no corpo. O indicador mais fiel da participação de um membro Oṣugbo (tratando de vestuário) é o uso de ìtagbè na cabeça. Quando as decisões importantes são tomadas em reuniões Oṣugbo, membros amarram o pano sobre a cabeça de modo que uma parte da franja termine sobre o tórax. Em público, eles usam como turbante com a franja caindo no rosto. Um recém iniciado (awo we-we) pode até receber o iburun`la, que por regra é todo branco e maior, o que o distingue do ìtagbè usado por quem detém algum titulo dentro da confraria e que freqüentemente são brilhantes e possuem mais de uma cor. Um membro no estagio de We-we- não participa dos rituais secretos até receber um titulo juntamente a um igba-asé, quando, então, a depender de sua função passa a participar mais ativamente dos rituais principalmente os de iniciações. Cerimônias de titulação na Ògbóni Fraternty geralmente são abertas a membros de outros Eledi, que são convidados a testemunhar a titulação. Isto ocorreu nos três Iledi em que tive oportunidade de participar.
Para não me tornar ainda mais longânimo, devemos concluir com estas informações, que o uso tanto do iborun`la, quanto do ṣàkì/ìtagbè, deve-se restringir a membros Ògbóni com legitimidade iniciática e  não fora de um contexto cerimonial religioso; quanto menos por quem não mantém nenhum vinculo, seja  iniciático ou político com esta ainda respeitada Sociedade. Digo, ainda, porque, se os legítimos OMO IYA se omitirem, estes elementos sacros simbólicos e por conseqüência sua significância, caíram na banalidade e desrespeito por parte da sociedade; tanto religiosa quanto não religiosa. Permitir isto: é como nos calarmos diante de um ogberi ou Iyawo do candomblé (recém iniciado) usando e ostentando publica e ritualmente um Hungébé (rungebe).
A mensagem metafórica do Oṣugbo ou ṣàkì de ausência de maldade, esta para além da vista humana, dentro da filosofia Ògbóni, é uma metáfora a própria vulnerabilidade interna e transparência aos lacaios "da terra"  cujo olhar nada pode ser ocultado (Thompson 1971). Não é por acaso que o Oju-Aye é um dos símbolos freqüente nos Iledi.

 "Omu Iyá dun mu omu,  gbogbo wa la jo nmu”


ELEMOSO AWO ATI AGBA AKIN
      T`ogun Aroleifa.


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